Recentemente, tenho ouvido várias
referências a Provérbios 31 para apoiar “mulheres em busca de uma carreira” na
política ou em qualquer outra área. Deixe-me dizer que eu nunca argumentei que
uma mulher não pode ou não deve trabalhar (apesar de ser precisamente disso que
evangélicos na blogsfera e na mídia têm me acusado). De fato, eu já escrevi
sobre o assunto (veja: Família Guiada Pela Fé e o meu post anterior) e fui claro. Ironicamente, milha
filha Jasmine trabalhar para mim! Ela é minha assistente para pesquisa e cuida
da nossa loja online. Como, então, podem me acusar de argumentar
que uma mulher não pode trabalhar?
Enquanto eu nunca
argumentaria que uma mulher não pode trabalhar, eu tenho defendido que de uma
mulher é requerido que ela seja uma “dona de casa” (Tito 2:5; cf. 1 Timóteo
5:14), e que, como tal, ela deve priorizar o seu lar e qualquer “trabalho” que
ela faz não deve interferir no seu chamado primário de esposa e mãe. Assim, a
mulher do fazendeiro que ajuda na colheita, a mulher do padeiro que trabalha ao
seu lado, ou a mulher do contador que trabalha como sua recepcionista nos
negócios da família, estão todas em uma categoria diferente da tão chamada
“mulher de carreira” (o termo não é meu) que gasta sua vida como uma “ajudadora
idônea” (Gênesis 2:18) para outro homem (ou para uma corporação), em vez de
para o seu marido. Alistar Begg colocou isso bem:
Senhoras, a
maternidade é um trabalho de tempo integral. Não brinque consigo mesma, achando
que você pode ser uma recepcionista e uma mãe; que você pode ser uma
datilógrafa e uma mãe; que você pode ser uma vice-presidente e uma mãe. Uma das
duas coisas vencerá. Agora, olhe para a sua Bíblia e pergunte o que você deve
fazer. (Alistair Begg, “Biblical Principles for
Parenting.” Truth for lige podcast).
Deixe-me dizer que
eu não sou tão “estúpido” a ponto de ignorar completamente o fato de que
existem muitas mulheres (como minha mãe) que são abandonadas por homens
pecadores, egoístas, imaturos e/ou irresponsáveis (tanto o pai de seus filhos
ou o próprio pai delas), e que, assim, não têm qualquer escolha a não ser
trabalhar e sustentar seus filhos. Tampouco eu culpo mulheres cujos maridos
ficaram inválidos, por um motivo ou outro, por serem aquelas que sustentam a
família. Estou falando da nossa aceitação cultural obstinada de uma visão que
vê a mulher como um mero meio de produção. Estou falando da ideia exposta na
cosmovisão Marxista, que vê a saída das mulheres de seus lares como um duplo
feito: 1) Dobrar a produtividade do coletivo, e 2) colocar as crianças debaixo
da autoridade do estado (via creches e escolas públicas), que, para o Marxista,
é deus encarnado.
A ofensiva dos evangélicos
conservadores tem sido na forma de referências à mulher de Provérbios 31. Essa
mulher, de acordo com muitos, é o protótipo da moderna “garota de carreira”.
Tomo a liberdade de discordar. Na verdade, eu argumentaria que não existe
nenhuma evidência clara em Provérbios 31 de uma carreira de qualquer tipo. Além
disso, eu me pergunto se essas pessoas que usam os versículos 16 e 18 para
argumentar a favor da conveniência de uma mulher ter uma “carreira” usariam o
restante dos versículos com a mesma seriedade.
Provérbios 31:10ss
10 Mulher virtuosa,
quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias. 11 O coração do seu
marido confia nela, e não haverá falta de ganho.12 Ela lhe faz bem e não mal,
todos os dias da sua vida.13 Busca lã e linho e de bom grado trabalha com as
mãos.14 É como o navio mercante: de longe traz o seu pão. 15 É ainda noite, e
já se levanta, e dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas.16 Examina
uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com as rendas do seu trabalho. 17
Cinge os lombos de força e fortalece os braços.18 Ela percebe que o seu ganho é
bom; a sua lâmpada não se apaga de noite. 19 Estende as mãos ao fuso, mãos que
pegam na roca. 20 Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado. 21 No
tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate.
22 Faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de púrpura. 23
Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da
terra. 24 Ela faz roupas de linho fino, e vende-as, e dá cintas aos mercadores.
25 A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de
amanhã, não tem preocupações. 26 Fala com sabedoria, e a instrução
da bondade está na sua língua. 27 Atende ao bom andamento da sua
casa e não come o pão da preguiça. 28 Levantam-se seus filhos e lhe
chamam ditosa; seu marido a louva, dizendo: 29 Muitas mulheres
procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas. 30 Enganosa é a
graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada.
A mulher de
Provérbios 31 certamente era empreendedora. Ela também trazia renda para o lar
e o fazia mais produtivo. No entanto, não há nada nesta passagem que sequer
sugira uma carreira. Ela não batia ponto. Ela não tinha uma babá. Na verdade, o
contexto cultural faz como que essa leitura seja implausível. O Israel do
Antigo Testamento não era uma cultura na qual uma “garota de carreira” se
desenvolvia. Mas e quanto às outras verdades nesta passagem que eram a norma
para as mulheres do Israel do Antigo Testamento? Por que usamos essa passagem
para incitar as mulheres a terem sua carreira fora de casa, mas não estimulamos
as mulheres a:
Levantar de madrugada para cozinhar para a sua família (15)
Cultivar a própria
comida (16)
Fazer as próprias
cobertas (22)
Fazer seu marido
conhecido entre os anciãos da terra (23)
Fazer suas próprias
roupas (e as de sua família) (24)
Fazer e vender
peças de roupa (24)
Cuidar da sua casa
(27)
Essas coisas estão
claras no texto. Usar o argumento da “garota de carreira” é forçar o texto.
Especialmente quando nós reconhecemos o princípio hermenêutico irrefutável de
que a Escritura interpreta a Escritura. Assim, não podemos usar Provérbios 31
para negar Tito 2. O que quer que a mulher de Provérbios 31 nos ensine, ela não
pode ensinar algo que contrarie o mandamento direto para as mulheres serem
“donas de (ou cuidadosas da) casa”. (Tito 2:5, cf. 1 Timóteo 5:14).
Traduzido por Saulo Rodrigo do
Amaral, em novembro de 2012
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